Crime Abismo Azul Remorso Físico, Edgar Pêra

Filed in Curtas PolegarMente.me by on February 12, 2014

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

Realização: Edgar Pêra
Argumento: Jorge Quintela, Paulo Abreu
Elenco: Joana Amaral Dias, Nuno Melo, Sue, Valdemar Santos
Música: Edgar Pêra
Produtor: João Trabulo
Produção: Periferia filmes
Portugal, 2009, 11’

 

A curta-metragem Crime Abismo Azul Remorso Físico constitui a convergência de dois olhares: o do pintor, Amadeo de Souza-Cardoso, e o do realizador, Edgar Pêra. Olhares que aproximam temporalidades distintas.
Não há uma história linear. Há fragmentos de histórias, de imagens em movimento, que se entrecruzam e nos interpelam.
Os quadros de Amadeo de Souza-Cardoso são objectos vivos, dinâmicos nos seus volumes, formas e intensidades cromáticas. Neles, o tempo sente-se – tal como o entoar ritmado do coração – e a pintura emerge como hierofania do artista. O tempo move-se quer nas telas, quer nas fotografias e postais esvoaçantes no largo de S. Gonçalo. Foi esta ideia de dinamismo intrínseco à Criação que Edgar Pêra privilegiou.
O rio Tâmega transporta as memórias passadas e os desejos futuros. Através dele somos introduzidos na família do Pintor, percorremos a corrente (procissão) da fé, viajamos por entre as nuvens, saboreamos o vento, lançamo-nos por entre o fogo de artificio. E se a Vida fosse de um colorido irresistível, tal como a esplanada é a tela de Amadeo? Mas não é. O princípio de prazer raramente coincide com o princípio da realidade.
Continuamos descendo o rio por entre a denúncia de pesar do Pintor face a um poder económico que sufoca a divulgação da sua obra. Desejo profundo, comum a qualquer mortal, partilhado até pelo Sr. José Emídio! E a corrente serve também para evidenciar o patriotismo dérmico ou o fanatismo pelo futebol.
Ora musa inspiradora, ora lugar cativo de aspirações transatlânticas, Amarante é uma cidade de dicotomias. E o Tâmega com a sua água, surge como vislumbre natural, com que se inicia e se fecha o filme. Não é só o elemento co-natural ao(s) Amarantino(s). É um misto de Alma Mater – de substância purificadora – mas também de cárcere das aspirações e do próprio tempo.
Paradoxal?
Tal como a Vida. Tal como o(s) olhar(es) de vanguarda destes Artistas.

 Elsa Cerqueira

 

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