Prolegómenos
Nota marginal um
Tenho o privilégio de pertencer ao Cineclube de Amarante. Sou contempladora de filmes. Nem a primeira afirmação é premissa, nem a segunda conclusão necessária. Mas este elo, esta aliança, proporciona-me o acesso a vários tipos de cinematografias. Sou presenteada todas as semanas com um filme. E, de vez em quando, há filmes que exercem em mim um efeito encantatório.
Agrada-me esta Arte que, na contemporaneidade, conjuga a imagem em movimento com os sons, as interpretações dos actores, a mestria do realizador e do argumentista. É uma Arte poderosa pela capacidade que tem em originar emoções e ser pretexto de cogitações. E pela sua dinâmica singular é aberta a múltiplas re-interpretações.
Sou despertada por ideias, imagens, sons, associações, espaços e cores e invadida por sentimentos indómitos. Registo num caderninho esse deslumbramento. É esse o elemento invariante e convergente desta viagem cinematográfica. Senti necessidade de coligir esses rascunhos, de partilhar essas pequenas notas marginais.
Tenho gostos, preferências, mas não sou crítica de Arte. Gosto dela e ela retribui-me possibilitando-me através da atitude estética que me evada da pequenez . Da minha e da dos outros.
Nota marginal dois
Referi-me, na nota marginal precedente, a uma «viagem cinematográfica» mas este blogue não será apenas um espaço de fruição-reflexão sobre os filmes revisitados. Sim, recuso-lhe a identidade a priori. Contradigo-me. DesMinto-me. Somos um, mas com múltiplas identidades. Somos todas as artes apesar de sermos um. É que toda a emoção é sustentada por um universo imagético. E acrescento: não obedecerei ao novo acordo ortográfico.
Nota marginal três
Pese embora as criações sejam filhas do tempo, superam-no. Não haverá, neste blogue, preocupações cronológicas, inclusões nos ismos, nem certidões de nascimento e de óbito. Só notas marginais, cogitações, fruto de contemplações. E estas oscilarão entre dois ritmos distintos de escrita, da brevidade à prolixidade. Se o leitor tiver paciência poderá acompanhá-las; caso contrário, paciência.
Nota marginal quatro
Ainda que as capacidades de sentir e de querer sejam infinitas, o (meu) entendimento não o é. Escrever implica a submissão ao logos e as palavras afiguram-se-me finitas. Só os grandes Mestres conseguem libertar-se das palavras e, simultaneamente, pertencer-lhes. Firmei um pacto assaz peculiar: nunca escrever sem fruir.
Declaro que a minha obrigatoriedade em alimentar o PolegarMente é nula. Mas não o alimentar é negar-me. E por que não? Não será a negação uma outra modalidade do existir?
Elsa Cerqueira