Estive em Lisboa e Lembrei de Você , José Barahona
Ficha Técnica
Título original: Estive em Lisboa e Lembrei de Você
Realização: José Barahona
Elenco: Paulo Azevedo, Renata Ferraz, Amanda Fontoura
Género: Drama
Classificação: M/12
POR/BRA, 2015, Cores, 94 min.
Este filme é concebido como espelho invertido de José Barahona: o realizador é lisboeta e está no Brasil; Sérgio, o protagonista, é brasileiro e está em Lisboa.
O cineasta brindou o Cineclube de Amarante com a sua presença tecendo considerações interessantíssimas sobre a intencionalidade e o género – híbrido -, entre a ficção e o documentário, que subjaz à obra fílmica.
Um filme intimista, que apresenta inúmeros monólogos, e onde se discorre, em tom irónico, sobre a Cidadania (à venda por 50 cêntimos), o mesmo é dizer sobre a Identidade:
“Em Portugal não somos Nada.
Não temos Nome. Somos Brasileiros.
No Brasil, não somos Nada.
Somos Estrangeiros.“
É nesta condição de estrangeiro que Barahona vive no Brasil. Um filme texto e pretexto para intuirmos que antes de nos entranharmos num País, numa Língua, numa Cultura e nas suas Gentes, somos construtores dinâmicos e incessantes da nossa Identidade/Personalidade. A incompletude está no âmago da nossa condição. Por isso, seremos sempre estrangeiros de nós próprios porque todos os dias nos olhamos e revisitamos como se fosse a primeira vez.
Apreciei a crítica (in)vísivel, embalada pelo som doce e melodioso do sotaque brasileiro, sobre a miséria que une os dois povos. Se a identidade da língua (brasileira e portuguesa) é plural, a diversidade da miséria parece comungar da mesma génese.
Com imagens profusamente poéticas, o realizador vai, por exemplo, “corporificando o frio” e captando paradoxos como a delicadeza que sobrevive na adversidade, a flor que transporta a autenticidade e a bondade, e quiça a sabedoria reencontrada do “manuscrito perdido”. Só ela permitírá alimentar a crença num futuro (mais) optimista da Humanidade.
Com este filme, “vi o sol bater na minha janela”.
Obrigada por se lembrar do Cineclube de amarante, J.B.
Sobre a adaptação da obra literária ao cinema, o seu autor, Luiz Ruffato, escreveu:
“Estive em Lisboa e Lembrei de Você é o primeiro longa-metragem realizado a partir de um texto meu. Para mim, qualquer produção decorrente de um texto original é uma leitura. São apreensões e por isso não acredito em adaptação, mas em refeitura. “Estive em Lisboa e lembrei de você” é uma feliz refeitura de uma história, infelizmente atualíssima: a da ida dos pobres do mundo para a Europa em busca de um vida decente. Barahona agiu neste filme como um bom tradutor age sobre o texto de partida: foi fiel à essência, mas permitiu-se um olhar singular, que enriquece e amplia o horizonte do espectador.”
In http://estiveemlisboafilme.com.br/